Mais qualidade de vida com o uso do etanol
Em 19 de setembro, o Brasil comemorou 40 anos da assinatura do Protocolo entre o Governo Federal e a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), para desenvolver a produção de veículos movidos a etanol no país. Desde então, as vendas de veículos leves a álcool, que chegaram a atingir 96% do total comercializado em 1985, somaram mais de 4,98 milhões de unidades, conforme afirma o presidente da Datagro e representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), Plinio Nastari.
Já os carros flex, que podem ser abastecidos com gasolina ou etanol hidratado, acumulam vendas de mais de 30 milhões de unidades desde que foram lançados, em 2003, constituindo a maior frota mundial de veículos com essa tecnologia. Os ganhos econômicos, sociais e ambientais foram inegáveis, aumentando a qualidade de vida dos brasileiros.
Entre os impactos positivos do uso de etanol, misturado à gasolina ou puro, Nastari destaca alguns pontos. “Até dezembro de 2018, foram substituídos o uso e a importação de mais de 3 bilhões de barris de gasolina, um marco significativo para o Brasil. Isso equivale a uma economia de mais de US$ 506 bilhões”, analisa. “Já está comprovado, também, que o emprego relacionado à produção de cana-de-açúcar refletiu positivamente no IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] dos municípios onde a atividade se instalou.”
Em termos ambientais, como o etanol de cana-de-açúcar é praticamente neutro em emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), o Brasil tornou-se referência mundial na utilização de combustível limpo e renovável. Além de substituir compostos aromáticos cancerígenos contidos na gasolina, o biocombustível reduz a emissão de outros elementos nocivos à saúde, como o monóxido de carbono, o que contribui para reduzir a concentração de material particulado na atmosfera.
São Paulo
Na região metropolitana de São Paulo (SP), a concentração média de material particulado inalável registrada em 2000 foi de 54 microgramas por metro cúbico, despencando para 29 microgramas por metro cúbico em 2018 – cerca de 50% de redução.
A gerente do Departamento de Qualidade Ambiental da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Maria Helena Martins, diz que uma série de fatores contribuíram para essa melhoria, como a maior utilização do etanol. “Isso é resultado de ações como o Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), que estabelece limites de emissão de poluentes, a transferência para o interior de muitas indústrias, a melhoria do combustível e de tecnologia, aos catalisadores veiculares e a maior incidência de vento e chuva”, explica.
A Cetesb acompanha a evolução dos fatores de emissão veicular desde a implantação do Proconve, há 35 anos. E é inegável a contribuição do etanol na redução das emissões de poluentes. O gerente do Setor de Avaliação de Emissões Veiculares da companhia, Marcelo Bales, afirma que no início dos anos 1980, antes do programa, a utilização do álcool reduziu cerca de 60% das emissões de poluentes. “Já na década de 1990, o etanol teve um papel importante, como substituto do composto de chumbo que era misturado à gasolina, o que foi um ganho para a saúde e o meio ambiente”, diz ele.
Segundo a diretora-presidente da Cetesb, Patricia Iglesias, cerca de 60% dos 8 milhões de veículos flex do Estado de São Paulo consumiram aproximadamente 10 bilhões de litros de etanol hidratado em 2018, enquanto o consumo de gasolina girou em torno de 8,5 bilhões de litros. “A qualidade do ar na Região Metropolitana de São Paulo, que concentra a maioria da frota estadual, é melhor do que a de metrópoles como Paris [capital da França]”, exemplifica Iglesias. “Em Pequim [capital da China], por exemplo, que tem sérios problemas com a qualidade do ar, já há autorização para adicionar 10% de etanol”, complementa.
RenovaBio
O mecanismo de certificação criado pelo RenovaBio, o Plano Nacional de Biocombustíveis, deve impulsionar a eficiência energética-ambiental quando entrar em vigor, a partir de 2020. “As metas de descarbonização aprovadas pelo CNPE devem levar a uma redução acumulada de emissão de 686 milhões de toneladas de CO2 até 2029, o que corresponde a mais de um ano de emissões totais de carbono de um país da dimensão e expressão econômica da França”, afirma Plinio Nastari.
Por conta da pegada de carbono quase neutra do etanol, a emissão de gases do efeito estufa dos atuais veículos com motores de combustão interna utilizando etanol é de apenas 58 gCO2e/km, e deve baixar. “Estamos indo na direção da eletrificação com biocombustíveis com o novo híbrido flex a etanol, que já é considerado o carro mais limpo do planeta, pois emite apenas 39 gramas por quilômetro, e à célula de combustível a etanol, que já tem protótipo pronto, e emitirá apenas 27 gramas por quilômetro quando chegar às ruas”, afirma Nastari.
O gerente do Departamento de Apoio Operacional da Cetesb, Carlos Ibsen Lacava, lembra que, ao adotar o etanol na época em que os países começaram a assumir metas de redução de emissão de GEE, o Brasil teria tido o maior ganho entre todos eles: “Temos uma condição muito mais favorável, do ponto de vista de mudanças climáticas. Sem dúvida, o biocombustível coloca o país em grande vantagem em relação às emissões”.