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Categorias: Sustentabilidade
Tags: aborda o RenovaBio, Miguel Lacerda, O diretor do INMET, os biocombustíveis e as iniciativas para enfrentar os riscos climáticos.
Publicado em: 19 julho 2021

Mudanças climáticas exigem empresas sustentáveis

Mudanças climáticas exigem empresas sustentáveis

Projeções do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) indicam que nos próximos 100 anos poderá haver um aumento da temperatura média global entre 1,8 °C e 4,0 °C, e um aumento do nível médio do mar entre 0,18 e 0,59 metros. O Brasil já enfrenta a mais severa crise hídrica dos últimos 91 anos, pelo baixo volume de chuvas. No combate ao aquecimento global, que tem a queima de combustíveis fósseis entre os principais emissores de Gases de Efeito Estufa (GEE), o mundo busca alternativas energéticas sustentáveis.

Nesse cenário, a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) é uma importante contribuição na redução das emissões no país. Um dos responsáveis pela elaboração do programa federal, o diretor do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), economista com mestrado em agronegócios e ex-diretor de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Miguel Lacerda, aborda nesta entrevista o impacto das mudanças climáticas na produção de açúcar e etanol, a relevância do biocombustível e a importância de ações imediatas para o clima.

O senhor poderia contar, brevemente, qual a importância do INMET, a sua relação com o RenovaBio e a relevância disso para o país?

Fiz parte de uma talentosa equipe que formulou o RenovaBio, que incentiva o uso de energias renováveis. O INMET está desenvolvendo o Sistema de Informação Meteorológica (SIM INMET), para mitigar riscos. Estamos reformulando toda a estrutura nacional de meteorologia, para enfrentar problemas de aquecimento global, que já começaram. A crise hídrica que estamos vivendo no país é um desses efeitos.

Qual a relação dessas iniciativas com as mudanças climáticas? Como isso afeta a produção de açúcar e etanol?

A mudança climática vai impactar, primeiramente, na produção de energia, pois nosso sistema depende de hidrelétricas, com chuvas espalhadas. O aquecimento tem feito com que as chuvas ocorram durante um curto período, gerando secas mais profundas. Assim como em outras culturas, o produtor de cana-de-açúcar que não acompanhar dados e informações meteorológicas irá sofrer. Quem estiver preparado, pode planejar uma melhor gestão de risco.

Como funciona o Seguro Paramétrico? É economicamente viável?

O Seguro Paramétrico, por ora, destina-se exclusivamente à agricultura. A produção agrícola depende muito das condições climáticas, o que pode resultar em prejuízos enormes. O seguro é uma forma de prevenção. Ele está totalmente ancorado nos índices e indicadores climáticos, também conhecidos como derivativos climáticos. É possível assegurar, por exemplo, a quantidade de chuvas em um período, utilizando a métrica prevista para um determinado intervalo de tempo. Não é necessário fazer uma fiscalização de sinistro; o segurado apenas apresenta os dados meteorológicos que são um indicador do pagamento ou não da apólice. Isso existe nos Estados Unidos desde a década de 1990.

O INMET já desenvolveu toda a estrutura desse seguro, que deve ser lançado em até três meses. Unimos os supercomputadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do INMET para criar uma estrutura robusta e confiável. A segunda parte desse processo será a negociação dos ativos na bolsa de valores, onde será possível “comprar” chuva e sol. No futuro, esse seguro poderá ser utilizado para outras finalidades, como para o turismo, por exemplo.

O que pode ser feito de imediato para mudar os rumos das mudanças climáticas?

Precisamos investir em alternativas para substituir o consumo de combustíveis fósseis. A única solução que vejo é a utilização da biomassa na geração de energia. Incentivar os biocombustíveis é um ponto fundamental para diminuir os riscos climáticos. É preciso uma política no âmbito global, capaz de estimular a transição energética.

Qual a importância da descarbonização da economia?

A descarbonização transcende a economia. Ela é de suma importância para a existência da raça humana. Se continuarmos poluindo e contribuindo com o aquecimento global, vamos prejudicar nossa continuidade no planeta. O Brasil tem tudo para ser um grande player, somos um robusto produtor de biocombustíveis, como o etanol, com baixa emissão de carbono. Precisamos desenvolver estudos para fazer a captura de carbono por meio da produção de etanol.

Como as empresas privadas podem ajudar nesse desafio?

As empresas privadas têm de se conscientizar da necessidade de serem cada vez mais sustentáveis. O investimento na busca de soluções nessa direção tem de ser prioridade para toda empresa. Quem não se preparar para os riscos climáticos hoje, pode não sobreviver aos efeitos das mudanças que ainda virão.