Proálcool: o momento em que o Brasil começou a valorizar energias renováveis
Petróleo em alta, quase todos os carros do País só utilizam a gasolina, combustíveis sob racionamento e preocupação com a crescente poluição atmosférica. O ano era 1975 e este era o cenário que estimulou a criação, pelo decreto 76.593/75, do Programa Nacional do Álcool, conhecido como Proálcool, abrindo um novo horizonte para a matriz energética do Brasil.
A Copersucar, na época a Cooperativa de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool e responsável por mais de 50% da produção nacional, desempenhou papel fundamental na criação do programa. Em conjunto com a indústria automobilística e o governo, apoiou a pesquisa e o desenvolvimento de um novo produto, o etanol, mas ainda popularmente conhecido como álcool. A clássica campanha de divulgação “Carro a álcool: você ainda vai ter um” começou com a Copersucar.
Na crise do petróleo, uma nova oportunidade
Tudo começou com a decisão da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) de supervalorizar o preço do barril de petróleo (aumento de 300% em 5 meses) pelo apoio dado pelos EUA a Israel na Guerra de Yom Kippur, no Oriente Médio, em 1973.
O impacto aqui foi mais uma crise econômica, em meio ao clima do “Milagre Econômico”: o preço do barril saltou de US$ 2,5 em 1973 para US$ 34,4 em 1981, o que fez com que o desembolso com a importação para o Brasil fosse de US$ 0,6 bilhão para US$ 10,6 bilhões (e representando 57% do total gasto apenas naquele ano de 1981). Somado o período, foram cerca de US$ 52 bilhões em importação, bem próximo ao crescimento da dívida externa acumulada neste intervalo – em torno de US$ 60 bilhões. Com isso, os postos não abriam aos finais de semana e a cada aumento anunciado, longas filas se formavam à espera do abastecimento.
A primeira fase do Proálcool fez com que o etanol anidro, aquele que é misturado à gasolina, fosse utilizado como uma solução ambiental, como aditivo substituto ao chumbo tetraetila, que também era importado e altamente poluidor. Depois, chegou às bombas o álcool hidratado, que permitiu que o primeiro carro totalmente movido pelo biocombustível chegasse ao mercado em 1979 (o Fiat 147), depois do pioneirismo do Ford T no início do Século XX.
Todas as montadoras nacionais passaram a produzir modelos movidos exclusivamente a álcool, e seis anos depois (1985), eles chegaram ao pico de representarem 96% das vendas de carros. Estimava-se que a economia para o consumidor era de 59% do preço da gasolina, os impostos eram menores e o preço do veículo também era mais baixo, em relação ao movido por combustível fóssil.
Benefícios muito além do preço
A queda do preço internacional do petróleo e o aumento da produção nacional pela Petrobrás, entre outros fatores geopolíticos, fizeram com que o programa entrasse em declínio nos anos 1990. Os benefícios do Proálcool, por outro lado, são permanentes: a melhoria nas condições ambientais e a melhor flexibilidade na produção de açúcar. O programa ainda atuou de maneira significativa na geração de emprego e na manutenção da massa salarial, gerando cerca de 700 mil empregos diretos só entre os anos 1987/88.
O Proálcool também permitiu a evolução dos projetos e da tecnologia que culminaram nos carros com motor flex, lançado em 2003, e que podem ser ampliados agora, com a implementação do RenovaBio.
Com o novo programa, mais consistente e duradouro, o País terá metas de descarbonização para as distribuidoras, e emissão de créditos de carbono (CBios) pelos produtores de biocombustíveis. É um novo modelo, que incentiva a busca de eficiência na produção e a redução de emissões, valorizando os combustíveis de menor intensidade carbônica, presentes na vida dos brasileiros com o etanol hidratado.
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LEMBRETES DO PROÁLCOOL
Campanha publicitária promovida pela Copersucar nos anos 1980
Atenção. Os postos vão fechar às 20 horas.
Não se esqueça. A menos que você tenha carro a álcool.
Carro a álcool. Você ainda vai ter um.
O Brasil tem lindas praias e lindas montanhas.
E álcool à vontade nos fins de semana. Aproveite.
Carro a álcool. Você ainda vai ter um.
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